13.3.07

Liberdade, Miguel Torga

Num comentário ao meu post sobre o 11 de Março, alguém sugere a leitura do poema Liberdade.
Aqui fica.


– Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

– Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, Albufeira, 28 de Agosto de 1975, in Diário XII


Já agora acrescento uma outra reflexão, no mesmo Diário, datada de Julho de 1974.

Coimbra, 19 de Julho de 1974 . Tem sido de caixão à cova. Pobre país! E o que estará ainda para vir! Mas não posso, nem quero, perder o pé na pátria. Terei de enfrentar o absurdo desta hora infeliz mesmo com ganas de voltar costas a tanto e tanto desconcerto. O pacto que assinei não foi com o azar das circunstâncias. Foi com a terra portuguesa e a língua portuguesa. E continuo a sentir a terra firme debaixo dos pés, e a poesia continua a cantar dentro de mim. O meu espaço de liberdade é o mapa de Portugal subentendido na folha de papel onde escrevo.
Em que pensaria o poeta ao escrever:
"Pobre país! E o que estará ainda para vir! Mas não posso, nem quero, perder o pé na pátria."
Desilusão com o caminho que a revolução trilhava? As pessoas que tirem as suas conclusões.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excelente, VA! Em cheio na mouche! E Miguel Torga não pode ser insultado com os nomes caluniosos que os pseudo-progressistas costumam colar naqueles que verdadeiramente defendem a Democracia!!!

13/3/07  

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