11.5.07

O legado de Blair

Como tem sido noticiado, Tony Blair, primeiro-ministro inglês, prepara-se para abandonar o poder, após dez anos no cargo. Habituados a mudar de governo com algumas frequência, vivendo em democracia há apenas 33 anos, os portugueses convivem mal com legados tão longos. Coisa habitual por essa Europa fora. A modernidade e maturidade duma democracia também se avaliam por estes factos.
Os mandatos de Blair estão marcados por acontecimentos de sinal contrário. Um deles ressalta aos olhos da opinião pública: o apoio e a participação na guerra no Iraque. Esta imagem nunca se apagará da memória colectiva. Mas julgo ser redutor e demasiado simplista fazer um balanço dos seus governos, valorando este facto e esquecendo outros que marcam uma época.
Não se pode, por exemplo, esquecer o acordo de paz conseguido para o Ulster que se concretizou agora na constituição de uma governo de unidade nacional, onde católicos e protestantes têm sabido conviver.
No plano económico, afinal um factor decisivo na satisfação das pessoas, são relevantes as políticas e os resultados conseguidos. Não podem ser esquecidos os seguintes dados:
  • 40- quarenta- trimestres consecutivos de crescimento económico, o período mais longo desde a II Guerra Mundial;
  • por uma única vez, este crescimento económico foi inferior à média da zona Euro;
  • descida da taxa de desemprego de 6,8%, em 1997, para 4,8% em 2007.

Estes dados têm o valor que têm. Podem ser interpretados de maneira diferente. Podem ter gerado, ou mantido, desigualdades sociais. Nós, portugueses, não podemos nem devemos esquecê-los, já que vivemos "nesta apagada e vil tristeza", cada vez mais afastados dos níveis dos países europeus, com crescimentos económicos ridículos, em alguns anos até negativos, quando deveríamos estar a crescer muito mais que os países desenvolvidos. Uma certeza tenho: sem crescimento económico sustentado não se pode dividir coisa nenhuma, mesmo que essa repartiçao não seja a mais justa.

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Já tenho pensado algumas vezes nessa personagem que poderíamos chamar de Sócrates inguelêze, mas ainda me não tinha lembrado dessa: a modernidade e a maturidade duma democracia medem-se pela longevidade dos seus governos.

Pensando agora bem, bem entendo porque é que Portugal não é tão democrático como se esperaria. Ou porque é que a Itália, que tem governos menos longevinos que os nossos, é o país fascizóide que se sabe.

Com algum jeito, dando-me Deus vida e saúde, ainda hei-de acabar os meus dias nos reinos da democracia, que é como quem diz nos reinos de Sua Magesty, the Isabel Rainha.

11/5/07  
Blogger Bife com batatas fritas said...

Toino Do Campo
Se deus te der vida e saúde não terminarás os teus dias nos reinos de Isabel Rainha, mas sim de Carlos Rei, ou, se ele se baldar, William rei.

12/5/07  
Blogger adrianeites said...

ontem ouvia o programa do carlos magno na antena 1 e alguém dizia que se o ponto negativo de blair foi o iraque também daí se colheu vantagem... é que se bush estivesse sozinho a coisa seria pior...

eu acho que Blair teve um excelente trajecto e os números comprovam-no... é certo que não podemos isolar variaveis... mas nessa a nota é elevadissima..

12/5/07  
Blogger Vítor Amado said...

Toino do campo:
tomara o Sócrates ser, pelo menos, uma sombra do Blair.Para os exemplos de países com governos de pequena duração, podia referir-te o triplo de outros com governos que duram anos. Países democráticos, bem entendido. Não sei é se o meu conceito de democracia coincide com o teu. Mas isso são outras "estórias".
A opinião própria é relevante e deve ser fundamentada, mas como não tenho a presunção de ser dono da verdade, transcrevo uma frase da jornalista Teresa de Sousa, que há muito se dedica aos assuntos europeus, inserta no Público de ontem:
"Sim, há o Iraque, que foi a sua tragédia. Reduzi-lo a isso seria não perceber nada do que se passou na Europa nos últimos dez anos."

12/5/07  

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