Habituamo-nos a amar o Belo mas a Vida está em todo o lado!
há dias em que coloco a alma à janela de mim e observo o que me rodeia... e sorrio, e ignoro.
noutros, sinto que me são atiradas pedrinhas aos vidros da Alma... e ela contorce-se, chora e recolhe-se na forma escrita.
foi o caso.
...
HABITUAMO-NOS A AMAR O BELO...
... o normal, o esperado, o Belo per si!
Colombo, xx, fila de caixa. duas ou três filas à minha esquerda.
uma menina, uma adolescente, num carro tipo de bebé mas para adultos. percebia-se que se tratava de uma deficiência profunda. por todas as razões.
sorria ou tentava falar, agitando a fita de Carnaval que alguém lhe tinha colocado à volta do pescoço. lembrando a época de alegria...
e era com alegria que os acompanhantes conversavam entre si, sorrindo-lhe, acariciando-a na sua agitação. observei-os. eram três, com idades muito perto dos 50. ou não. que a vida por vezes deixa marcas, noutros casos, são as pessoas quem as elimina porque assim é preciso, porque outros valores, necessidades gritam mais alto do que o próprio sofrimento.
pensei no futuro da menina-adolescente, no dos adultos. senti que o meu olhar se ensombrava quando, num gesto repentino, a menina puxou a senhora que estava mais perto. ela baixou-se, tentando compreender a mensagem.
vestida ao rigor da época , com roupas doiradas, chapéu, uma fita carnavalesca caída sobre o peito, marcava assim o momento diferente que se vivia junto da menina… e ainda que chorasse por dentro. ambas riram com a mensagem trocada, a mais velha fazendo uma festa no rosto da mais nova, com um ar encantado por toda aquela partilha.
sorri. como não? e admirei aqueles três adultos como prova de que o Amor não conhece barreira, que está aí para o que der e vier, sem ressentimentos, culpas, enfrentando cada dia e a vida.
passado um bocado tornei a encontrá-las no xx. o meu garoto, na sua inocência, e porque não vê caras mas carros de bebé, não lhes resiste, fez uma festa na mão da bebé grande como lhe chamou e ela riu das palhaçadas daquele batman de palmo e meio. mais uma mensagem trocada num mundo à parte, excluídos os que não compreendem e pensam...
mundo perfeito este, assim! à sua, nossa maneira...
mas e será?
fontanário junto à xx.
uma esposa gritava com o marido, rodeada de sacos de compras, porque já estava à espera há 10 minutos de um pai embevecido que corria atrás da sua fada de 2, 3 anos, vestida a rigor e que teimava subir para um avião da Minnie.
10 minutos? o que são 10 minutos de uma vida quando não se tem mais nada a não ser a incerteza do dia de amanhã e um problema sério que não se resume a meia dúzia de sacos esperando num chão de um qualquer centro comercial?
a vida, afinal, em todo o seu esplendor... só não sei a de quem e qual o valor que cada um de nós lhe atribui, o real.
1 Comments:
Belo texto.
"há dias em que coloco a alma à janela". Faça-o todos os dias.
Parabéns.
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