Prémio Camões 2007
O escritor português Lobo Antunes ganha o mais prestigiado prémio da Literatura de Língua Portuguesa, o Prémio Camões.
Alguns excertos de entrevistas dadas pelo escritor ilustram a polémica personalidade de um dos mais conceituados escritores da actualidade.
"O que é escrever? No fundo é estruturar o delírio, e tem graça porque quando se trata o delírio o que aparece sempre é uma depressão subjacente."
"Um amigo meu, o Daniel Sampaio, talvez o melhor psiquiatra português, costuma dizer que só os psicóticos são criadores. Você fala com um neurótico e são tipos que não são nada, que são chatos, repetitivos. Os psicóticos são espantosos, dizem frases espantosas, estou-me a lembrar de uma que era «aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores». Isto é uma frase do caraças."
"Um amigo meu, o Daniel Sampaio, talvez o melhor psiquiatra português, costuma dizer que só os psicóticos são criadores. Você fala com um neurótico e são tipos que não são nada, que são chatos, repetitivos. Os psicóticos são espantosos, dizem frases espantosas, estou-me a lembrar de uma que era «aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores». Isto é uma frase do caraças."
in Expresso, 7 de Novembro de 1992
"(...) penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico. (...) Há sempre uma parte subterrânea nas obras de arte impossível de explicar. Como no amor. Esse mistério é, talvez seja, a própria essência do acto criador. (...) Quando criamos é como se provocássemos uma espécie de loucura, quando nos fechamos sozinhos para escrever é como se nos tornássemos doentes. A nossa superfície de contacto com a realidade diminui, ali estamos encarcerados numa espécie de ovo... só que tem de haver uma parte racional em nós que ordene a desordem provocada. A escrita é um delírio organizado."
in Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano I, nº23, Janeiro de 1982
"No fundo o que é enlouquecer? É sair de uma determinada norma, não é? É preciso muita coragem para se ser realmente louco."
in O Jornal, 30 de Outubro de 1992
"No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, transformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos."
in Público, 18 de Outubro de 1992
Etiquetas: Cultura, Literatura
7 Comments:
esta última resposta vem dar a mão à temática da nossa última tertúlia:
"Loucura, marginalidade e criação poética"
que tão "apreciada" foi pela nossa empenhada intelectualidade...
abr
pn
Ó va,
1. é mesmo assim? "O escritor português, Lobo Antunes, ganha...", com vírgulas? consideras mesmo o LA "o escritor português"?
2. não consigo gostar deste LA, nem mesmo sabendo que ganhou o mais prestigiado prémio. Terá sido um prémio de consolação por (ainda?) lhe não ter tocado o Nobel?
mas tens de começar a gostar, lendo ou relendo alguns livros. Mas como há início para tudo, talvez te aconselhasse a leitura das crónicas, reunidas em livro.
abraço, filósofo.
E viva o SLB, for ever!!!
P.S:(não...não é esse que arrenegas...)Valorizo mais este prémio que o "político" prémio Nobel.
Lobo Antunes inovou muito na forma de trabalhar a língua portuguesa, influenciando alguns escritores mais recentes, ao contrário de Saramago, cujo estilo não "fez escola".
O problema da aceitação de Lobo Antunes está nas pessoas que vão ler as suas obras à procura de uma história, ( essas existem nos Cús de Judas e na Memória de Elefante.
A partir daí há imensas personagens nos seus livros, que embora mudando de nome acabam por sempre as mesmas,( na minha modesta opinião), que monologam frente ao leitor, conversam umas com as outras, não entendendo o leitor muitas vezes quem está a conversar, em que tempo e em que espaço. As obras mais recentes são lidas por quem gosta de ler em Português, não por quem procura a emoção do enredo.
Quando se olha para um quadro de pintura abstracta, também sem se perceber qualquer objecto, pode-se gostar da obra pelo conjunto, pela beleza da mistura das cores, pela junção harmónica das formas. Nos livros de Lobo Antiunes é isso que se encontra nas palavras escritas.
Ó va,
1. achas mesmo que o prémio tem maior dimensão que a do teu bairro?
2. achas mesmo que o escritor é português e não copiês?
3. achas mesmo que o equilíbrio deve ser assim, deseq...?
4. achas mesmo que aqui não há entrada de lobo e saída de antunes?
5. achas mesmo que o Lobo daria a mão à vossa última tertúlia?
Olha lá, tu achas mesmo?
pois é! pelos vistos é isso mesmo!
1. é isso mesmo, va! tenho de começar a gostar (começando a ler)?! o meu (grande) problema é que eu já comecei (e continuei) a ler e não comecei a gostar!... serei caso perdido?
2. é (ou talvez seja) isso mesmo, amenophis! a/os personagens acabam por ser o/as mesmo/as, mudando de nome. monologam frente ao leitor, que o/as não entende. o leitor que gosta de ler em português lê o mais recente LA, mas então quem procura a emoção do enredo não procura ler em português. Esse há-de ser o meu (grande) problema.
Em suma: sou um caso perdido! não gosto de LA. mas havia de gostar!...
tim do alto:não estive presente na tertúlia a que te referes.Mas tive algumas informações positivas a respeito da mesma.É muito fácil criticar-se uma iniciativa; mais difícil, por vezes, é levá-la à prática.
E, quando se critica,deve apresentar-se alternativa ou fazer a crítica no momento e lugar próprio.
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