Prémio Vergílio Ferreira 2007
O poeta, ficcionista, ensaísta e tradutor Vasco Graça Moura foi hoje galardoado pela Universidade de Évora com o Prémio Vergílio Ferreira 2007. Este ano, o júri decidiu outorgar a distinção a Vasco Graça Moura, nascido no Porto, em 1942, considerado "um dos nomes maiores da cultura portuguesa contemporânea".
O galardão pretende dar projecção e visibilidade às obras de ficção ou ensaio dos autores escolhidos e inclui uma componente pecuniária de cinco mil euros.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa em 1966, Vasco Graça Moura ainda chegou a exercer a profissão, para além de se ter dedicado também à política.
Publicou a sua primeira obra, "Modo Mudando", em 1963, a que se seguiram vários outros livros de poesia, ensaio, ficção, assim como uma peça de teatro ("Ronda dos Meninos Expostos", 1987), um diário ("As Circunstâncias Vividas", 1995) e as crónicas de "Papéis de Jornal" (1995).
As suas traduções de "Vita Nuova" e da "Divina Comédia", de Dante, valeram-lhe o Prémio Pessoa, em 1995.
O galardoado afirmou que «Qualquer prémio literário é importante para um autor e este foi uma instituição de grande prestígio a atribuí-lo [a Universidade de Évora]», realçou em declarações à Lusa o poeta de «Instrumentos para a Melancolia».
Como homenagem, deixo aqui um poema do premiado.
as sereias, as leves formas salinas nascendo da música
como chamas interiores das algas e das escusas geografias,
trazidas por ventos e motores, talvez despenhadas do pequeno avião
que ontem se avistava, na água têm meandros de aço róseo.
e tudo é de papel, anjos, tigres, barcos, a noite de areia e cinza.
a espuma atravessa a casca das coisas e
nasce dos bordos da pedra, onde o corpo se expõe
e vê nos seus antípodas os anjos. a luz, a liberdade
são densidades da alma, obscuro canto a vir
do mais fundo de todos os lados para a nave desorientada.
a passagem dos barcos, a azul e negro, as ondas,
tempo incessante de tépidas permutas, flâmulas
de seda a bifurcarem um vento plácido, a luz
de grandes sombras malva para a chegada súbita dos barcos
pelo golfo de tinta onde nadou ulisses.
Vasco Graça Moura, A furiosa paixão pelo tangível, Lisboa: Quetzal, 1987
2 Comments:
e assim se unem dois grandes nomes. abraço.
é verdade
abraço.
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