Ferreira Gullar
No meu habitual zapping televisivo, ontem à noite, chamou-me a atenção um programa da TV Galiza. Estava a ser entrevistado Ferreira Gullar, personalidade da cultura brasileira, que, com voz pausada mas poderosa, falava da sua obra. Interessou-me o programa e o homem. Para mim, um desconhecido, confesso. A curiosidade levou-me a pesquisar mais informações sobre aquele homem de cabelos longos e brancos, marcado na face pelo tempo e pela vida. Vivendo num país marcado por vários ciclos políticos, o destino do país irmão não o deixou indiferente. Lutou e sofreu nos períodos marcados pelos regimes autoritários, viveu exilado vários anos. E escreveu. Algumas vezes com forte empenhamento político, muitas outras pelo prazer da criação poética. Deixo esta ligação para a sua página pessoal na internet e um exemplo da sua poesia. Na imagem ao lado, o livro com o célebre e longo "Poema Sujo", escrito em Buenos Aires e trazido para o Brasil, em 1975, em registo audio feito pelo próprio, por Vinicius de Moraes.
Arte poética
Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz
e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -
some-se aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
no presente veloz
Nada que se pareça
a pássaro empalhado, múmia
de flor
dentro do livro
e o que da noite volte
volte em chamas
ou em chaga
vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira
Arte poética
Não quero morrer não quero
apodrecer no poema
que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz
e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
- ainda que nascido da morte -
some-se aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
no presente veloz
Nada que se pareça
a pássaro empalhado, múmia
de flor
dentro do livro
e o que da noite volte
volte em chamas
ou em chaga
vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira
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