15.12.07

O Último Minuto na Vida de S.

Já o tenho afirmado em círculo de amigos, confirmo-o agora em termos públicos: Sá Carneiro foi o político português que mais admirei depois do 25 de Abril de 74. Pela coragem que manifestara antes da Revolução, pela frontalidade com que viveu depois. Nesses tempos idos, calcorreei quilómetros, segui-o em comícios, li os seus textos, defendi-o em situações políticas bem adversas.
Acabei de comprar um livro agora publicado, escrito por Miguel Real, baseado na vida de Sá Carneiro e Snu Abecassis.
  • "Ficção, O Último Minuto na Vida de S. é a história do último grande amor português. Cruzando um estilo ora satírico-jocoso, ora realista, e apoiando-se na realidade portuguesa entre as décadas de 60 e 70, em três ou quatro factos verdadeiros, visa retratar um Portugal que já não existe, o Portugal desaparecido na voragem dos costumes europeus."

Este caso chocou o Portugal de então. A direita retrógada, beata, bafienta, nunca perdoou a Sá Carneiro a separação do 1º casamento e o assumir da relação com Snu, também divorciada, escandinava e culta. A esquerda, à falta de melhores argumentos, atacou-o na sua vida privada. O PC enxameou as paredes do país com ditos jocosos sobre o caso; Mário Soares, afirmou que "um homem que não conseguia governar a sua casa, nunca poderia governar o país." Mais tarde, em afirmações várias, viria a pedir desculpas por estas afirmações; mas, na altura, deram-lhe jeito... O país mais arcaico da Europa escandalizava-se.

Nas primeiras páginas do livro, Miguel Real transcreve um poema de Vinicius de Moraes, encontrado pela polícia de investigação criminal, manuscrito em papel pétala de rosa, num pequeno bolso da mala chamuscada de Snu, após o acidente aéreo que vitimou Sá Carneiro e a companheira.

Porque foste na vida

A última esperança

Encontrar-te me fez criança

Porque já eras meu

Sem eu saber sequer

Porque és o meu homem

E eu tua mulher.

Porque tu me chegaste

Sem me dizer que vinhas

E tuas mãos foram minhas com calma

Porque foste em minh'alma

Como um amanhecer

Porque foste o que tinha de ser.

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Defendesteze-oem situações adversas, mas faltou-lhe a tua defesa na mais adversa das situações.

Conheci na altura uma Isabel de certeza mais fanática por Sá Carneiro do que tu. Chorou no funeral, confessou ela, mais do que se fosse o funeral do pai. Dela ouvi as melhores anedotas "sobre" o defunto. Esta, por exemplo: quando Eanes chegou ao local do acidente, os bombeiros perguntaram-lhe, apontando para Carneiro: "sr. presidente, quer assim ou mais passado?"

A maior das qualidade de Sá Carneiro (como a de D. Sebastião) foi ter morrido antes do tempo. É assim que se constroem mitos...

17/12/07  
Anonymous Anónimo said...

Discordo frontalmente, e com factos, da ideia de que a direita retrógrada e beata (mas pq a necessidade de insultar sempre quem tem coragem de defender valores contrários ao suposto "progressismo" do politicamente correcto?) não perdoou Sá Carneiro.
Pelo contra´rio, sempre o apoiou e sempre votou nele.
Basta olhar para os resultados eleitorais de 79 e 80: os católicos, a direita, votaram e apoiaram entusiasticamente Sá Carneiro e não ligaram à situação conjugal. à direita da AD, praticamente não houve votos.
Ou quer o cronista convencer-nos de que os católicos votaram na jacobina e ateísta e essa sim retrógrada, e bem retrógrada, esquerda?

20/5/11  

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