9.7.08

Facilitismo: to be or not to be (?)

Ainda sobre o dito “facilitismo” dos exames…

Eu própria, no último ano lectivo de tortura trianual de correcção de exames de 12º, me lamentei pelo cada vez maior “facilitismo” dos exames e embora reconheça que a facilidade não seja sempre assim tão evidente e comprovada.

(há questões que por vezes são verdadeiras ratoeiras, inteligentes…)

E todos os anos há quem proteste pois os exames são sempre mais fáceis do que os testes de avaliação que fazemos aos nossos alunos e embora seguindo a estrutura de exame.

Mas ainda bem que assim é… Quem prepara os alunos para a prova final somos nós não o exame em si. Este é, todos os anos, um tiro no escuro, nunca sabemos as modas que pairam, a matriz chega-nos agora sob a forma de uma prova modelo, tão variada nas suas variantes (?) rss que dizemos, ou pelo menos eu digo, que o dever de qualquer prof é pensar no pior, no mais difícil, para que n surjam surpresas sob a forma de “invenções ministeriais”.

Por outro lado, sabe-se que um exame de 12º ano não pode ter carácter eliminatório. Se assim fosse, todos os princípios em que assenta a avaliação do ensino secundário, a própria fórmula a considerar para cálculo da média final, deixariam de fazer sentido. Do mesmo modo, o peso que o resultado do exame tem para obtenção da referida média, seria posto em causa…

Agora, facilitismo? Sim, por aquilo que muitos poderão considerar um preciosismo mas que irrita deveras os profs – este ano, os colegas de Matemática inclusive, pela tão badalada prova realizada na 1ª fase porque normalmente são sempre os queixinhas de Português a fazerem-se ouvir e que pode acontecer pelo caso que se segue:

- a estrutura da prova de Português aponta para um primeiro grupo a valer 100 pontos, um segundo que este ano passou de 60 do ano passado para 50 este ano e um terceiro, que valia 40, para um valor de 50. O segundo grupo é constituído por um conjunto de questões de escolha múltipla ou de correspondência lógica, gramatical ou outra. O facto de terem sido retirados 10 pontos/1 valor ao segundo grupo e de se ter valorizado a produção escrita no último grupo, denota alguma preocupação pela valorização da escrita.

(factor que, talvez, não tenha sido estranho aos resultados da 1ª fase na disciplina de Português)

O que é que acontecia por vezes? Um aluno que revelasse sérias dificuldades na escrita, atingia praticamente a positiva só pelo segundo grupo, a valer 60 pontos o que, quando equiparado com um outro que escrevesse razoavelmente e que tivesse atingido a mesma nota ou similar, não deixaria de parecer uma grande injustiça.

Claro que as coisas não seriam encaradas desta forma se não estivesse em causa a defesa da nossa língua, se os referidos alunos não ingressassem no ensino superior e manifestassem dificuldades na leitura, na interpretação e na redacção de matérias, das provas universitárias.
Naturalmente que o problema não é do 12º ano nem tão pouco do ensino secundário. O problema vem das basezinhas como diria o padre de Os Maias, vem da primária, vem da certeza que temos, cada ano, de que os alunos terão oportunidade de aprender o que não conseguiram, até então, no ano seguinte.

Esse ano que nunca chega… até ser tarde de mais.

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5 Comments:

Blogger Nina Souza said...

Pensei que só no Brasil tivéssemos problemas com a base educacional...
bjs

9/7/08  
Blogger Conde Nado said...

Será que já não chega de atirar sistemáticamente com a culpa para os anteriores.O superior diz que o Secundário prepara mal, o secundário diz que a cuplpa é do 3ºciclo. O 3ºciclo diz que vêm mal preparado do 2º, os do 2º culpam o 1º ciclo e estes culpam a pré de não desenvolver adequadamente as capaciadaes dos meninos e meninas. Brevemente ouvirmos os educadores de infãncia a culpar os pais por lhes mandarem os filhos tão mal preparados. Com quem se poderão desculpar os pais? Seguindo a sequência, será com os avós dos meninos.
Já basta os senhores ministros de todos os governos culparem sempre os senhores ministros do governo anterior.

9/7/08  
Blogger Ângela said...

O facilitismo não ajuda nada nem ninguém.
Mais cedo, ou mais tarde, os meninos vão acabar por perceber que na vida nada é fácil. Porventura, só o ensino o foi...
Mas bons resultados ficam muito bonitos nas estatísticas. Seja a bem, seja a mal...
Sejam resultados merecidos, sejam resultados manipulados...
Tudo é mau. Porque, desde o início que a coisa está mal feita.
É que também os professores foram alunos até há bem pouco tempo e se foram ensinados a tratar as coisas de uma maneira, por muito que tenham ideias diferentes não as conseguem praticar.
Tenho pena do futuro que vem para essas crianças/jovens. O choque vai ser ainda maior.

9/7/08  
Blogger Ângela said...

Alma,
agradeço as suas palavras, mas quero apenas prestar-lhe alguns esclarecimentos, que ajudarão a complementar o meu comentário.
Este assunto toca-me muito, creia-me.
Eu, que sou "filha do 25 de Abril", mas que, ainda assim, nunca senti qualquer facilitismo. Que estive em turmas onde a grande maioria chumbava quando não atinjia os objectivos, onde havia muitos repetentes. Mas, pelo menos, justa. Os que se esforçavam eram premiados (passavam de ano), os que não se esforçavam assumiam as consequências (chumbavam).
E assim foi desde a primária até ao final do ensino superior.
Mas, parece-me que a minha geração será das últimas a ter tido este crivo.
Actualmente, parece-me tudo tão irreal...
Culpa de quem? De alunos e professores, de educandos e educadores.
Do status quo.
os CNO são fantásticos!
O mundo é excelente.
Não, não é...
Mas parece, pelo menos até chegarem ao mundo do trabalho e da concorrência desmedida em que nos encontramos.
Enfim, estamos a criar gerações de pacientes para psiquiatras...

9/7/08  
Anonymous Anónimo said...

Minha querida Alma, depois dos comentários lidos, eu remato.
Culpa: dos cromossomas.
Beijos
Anónima

10/7/08  

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