27.12.06

A luta continua!

O Ministério da Educação tem tomado decisões, quase desde a tomada de posse, que afrontaram os professores. A máquina de propagando do governo fez passar a ideia que se trabalhava pouco nas escolas, que os professores eram uns privilegiados, o insucesso se devia quase exclusivamente aos "incompetentes" seres que vagueavam pelos corredores das escolas... Usando palavras da própria ministra, a opinião pública estava ganha...uns "pseudo" comentadores, encabeçados por essa sumidade chamada Miguel Sousa Tavares, fizeram o resto!
Mas algumas medidas que por aí se anunciam podem contribuir para que o feitiço se vire contra o feiticeiro.
Vem isto a propósito do anunciado encerramento de mais 900 escolas do primeiro ciclo, dando seguimento a uma política de desertificação do interior iniciado em anos e com governos anteriores. Critérios essencialmente economicistas escondem-se sob a capa de uma pretensa melhoria de condições pedagógicas e de socialização das crianças.
As organizações sindicais têm estado atentas e denunciado situações que contradizem essa imagem que se pretende passar.
Daí que, segundo a FENPROF, a decisão do Governo de fechar milhares de escolas significa que "decidiu abandonar os portugueses que vivem nas zonas rurais do interior do país". Apesar de o Ministério da Educação ter anunciado que só seriam encerradas escolas de pequenas dimensões, a FENPROF afirma que algumas delas "têm mais de 20 alunos" e dá como exemplo estabelecimentos de ensino do distrito de Viseu. Para além disso, segundo a FENPROF, algumas destas escolas já tinham acolhido crianças provenientes de outras escolas encerradas "gerando grandes perturbações na vida das famílias e nas condições de aprendizagem de crianças de tenra idade".
A Federação contraria também outra das afirmações do secretário de Estado da Educação, garantindo que "as crianças não estão a ser deslocadas exclusivamente para escolas que funcionam em horário de regime normal". Exemplo disso é a escola do 1.º ciclo do Ensino Básico da vila de Cinfães que funciona em regime de horário duplo, com quatro salas para oito turmas, e recebeu crianças deslocadas de aldeias próximas.
A organização sindical aponta ainda o dedo às condições das escolas para onde os alunos estão a ser deslocados. Segundo a FENPROF, "na maioria dos casos as escolas ditas acolhedoras são iguais às que encerram e, nalguns casos, piores, como acontece em Carragosela, no concelho de Viseu, e na freguesia de Nespereira".
Para a FENPROF, o Governo quer encerrar mais 900 escolas, em 2007, sem ter resolvido os problemas resultantes do encerramento de 1500 estabelecimentos de ensino, em 2006. Uma das dificuldades foi registada em Contige, no concelho de Sátão, onde "as crianças deslocadas estão a ser obrigadas a usar transportes que estão muito longe de observar as mais elementares regras de segurança, como por exemplo, doze e mais crianças transportadas em carrinhas de nove lugares". Em escolas do agrupamento do Caramulo, a Federação garante que "as refeições são servidas sem respeito por mínimas regras de higiene". Por exemplo, em Seixo, no concelho de Sernancelhe, os alunos tiveram de levar para a escola o prato e os talheres, enquanto na vila de Aguiar da Beira, as crianças vão almoçar à cantina de outra escola e, como não têm transporte para esta deslocação, o agrupamento de escolas comprou capas de plástico para os alunos usarem nos dias de chuva.
Ainda relativo ao transporte, a FENPROF afirma que algumas crianças, em Guimarães de Tavares, no concelho de Mangualde, fazem percursos "com durações de cerca de uma hora de manhã e outra à tarde, apesar de viverem a dois ou três quilómetros da escola". Segundo o sindicato, noutros casos, como em S. João da Serra, no concelho de Oliveira de Frades, "as crianças estão a chegar à escola dita acolhedora mais de meia hora antes de as actividades escolares se iniciarem". Em S. João da Pesqueira, "algumas crianças saem meia hora mais cedo das aulas para usarem os transportes organizados e são forçadas a chegar à escola uma hora antes do início das actividades".Apesar de o secretário de Estado da Educação ter referido que o Ministério da Educação ia financiar obras de beneficiação e ampliação de escolas, a FENPROF garante que "se desconhecem intervenções dignas desse nome". E dá como exemplo a escola de Montão, em Cinfães, que fechou por ordem da tutela, tendo os alunos sido deslocados para Vila Nova. Segundo o sindicato, "esta escola passou a ter duas turmas, mas só tem uma sala", por isso, "as crianças passaram a frequentar a escola no chamado regime duplo". No entanto, "nas horas de almoço e enriquecimento curricular, os meninos das duas localidades são transportados para a escola encerrada uma vez que a chamada escola de acolhimento só tem uma sala".
No seguimento deste comunicado, várias reacções se fizeram sentir; destacaria a de uma mãe do Barreiro:
"Não me admiro com estas notícias, pois tenho uma filha com 6 anos que iniciou o seu percurso escolar na Escola de 1º ciclo nº6, do Barreiro (às portas de Lisboa), nuns pavilhões que têm quase 40 anos de provisórios e que oferecem todos os perigos, como se confirmou com os temporais do ínicio do Outono, em que caiu um pedaço do contraplacado da barraca(não encontro outra designação para o edíficio).Desde Setembro que alerto para o facto o Gabinete do 1º Ministro (que me disse ter alertado o ME), o ME (que não me deu qualquer resposta) e a CMB, cuja vereadora me disse que gostaria muito de resolver o assunto, mas não há dinheiro. Pedi à CONFAP que me aconselhasse nos passos a dar, mas também não me responderam. E é assim que querem que as crianças gostem da escola e não haja abandono escolar?! Mas aposto que a culpa é dos professores, não é Senhora Ministra?"

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home