A Frase
Pacheco Pereira, em artigo publicado na última revista Sábado, faz uma análise da situação política, alertando para a necessidade do debate político. Concorde-se ou não, o articulista é dos poucos que pensa a política, não nos aspectos mais imediatos, mas numa perspectiva ampla e mais substantiva. Aqui fica o registo.
Numa reunião partidária, Marques Mendes disse, a julgar pela imprensa, que “Não está em curso nenhum projecto de mudança verdadeira do País, está em curso sim um projecto de poder do engenheiro Sócrates. Nem é tanto do PS, é mais um projecto de poder pessoal do primeiro-ministro.” Para o líder do PSD, são três as áreas essenciais onde esse “projecto de poder” é visível: justiça, centros de decisão económica e comunicação social.
Esta é a frase sobre a qual devia assentar toda a oposição, mas é natural que ninguém vá ligar muito ao que ele disse. Primeiro, porque foi Marques Mendes que o disse, e está na moda desvalorizar o que ele diz em detrimento de uma certa gritaria vazia de conteúdo que passa por ser “fazer oposição”, que só chega aos jornais porque é oposição à oposição e não oposição ao governo. Segundo, porque esta é uma das questões que não interessam discutir, no meio de tanto futebol, com o silêncio indiferente a apagar as frases de risco para o Governo. Marques Mendes tem que a repetir várias vezes e acrescentar-lhe mais elementos. Sosseguem os que vão dizer que é “preciso provar” porque provas estão por todo o lado, é preciso é iluminá-las pelo debate e repetir, repetir, repetir.
Marques Mendes, para ser ouvido, nesta fase(como noutras), tem ainda outro problema, o seu verdadeiro problema: mostrar que o PSD aprendeu com erros do passado e não repetirá o mesmo esquema e a mesma lógica de poder que o engenheiro Sócrates está a usar agora. Entre os artífices das armas que Sócrates manipula contou-se o PSD. Mais: contou-se e conta-se, porque o PSD é comparte do “projecto de poder” de Sócrates em pelo menos duas das áreas mencionadas, a justiça e a comunicação social.
Não escapou a ninguém a falta de rigor com que o PSD reagiu às recentes atitudes da ERC, e ao facto, mais uma vez demonstrado, de que, apesar de o PSD ser parte da sua composição, ou exactamente por isso, tal não significa nenhuma salvaguarda de qualidade, independência e pluralismo na sua composição; o que remete para as escolhas de pessoas, a área onde a responsabilidade das direcções partidárias é sempre maior, direi mais, total.
Depois há a questão do “projecto pessoal” de Sócrates que se percebe melhor no PS, por razões óbvias – é aí que o “pessoal”, que é também de grupo ou entourage, choca com interesses rivais. Aí basta acompanhar as manobras dos que se lhe opõem para se perceber como são eles os primeiros a achar o mesmo que Marques Mendes. Até agora, nas manobras a curto prazo, Sócrates deixou cemitérios por todo o lado. Alegre e Soares foram derrotados na contestação a este “projecto pessoal”, e acabaram para já submissos, mas há grandes manobras a médio prazo mais subtis e pacientes, mas tentando defrontar o mesmo adversário.
Voltando à frase inicial, ela implica duas coisas que são caminhos importantes para o debate crítico ir mais longe. Uma é insistir que “não está em curso nenhum projecto de mudança verdadeira do País", e não está. Na melhor das hipóteses, o governo PS está a tentar salvar o nosso débil modelo social, uma versão de terceira classe do modelo social europeu, garantindo-lhe mais uma década sem bancarrota à custa do empobrecimento de todos. Desse ponto de vista, estamos a garantir mais do mesmo, sendo que o mesmo é cada vez menos. Claro que para fazer isto com eficácia, o PSD tem que se demarcar das opções político-ideológicas do “modelo”, o que nem sempre faz. Tem que ser mais liberal, if you know what that I mean.
Outra é a identificação das áreas onde se materializa preferencialmente este “projecto”, e aí justiça – poder económico – comunicação social é a tríade certeira. É aqui que o governo está a centralizar tudo e a concentrar um poder para que não aceita verdadeiro escrutínio da Assembleia, nem verdadeiro debate público. É aí que um esforço de estudo (por parte da oposição) e acompanhamento crítico (no espaço público) se exige como pão para a boca.
Esta é a frase sobre a qual devia assentar toda a oposição, mas é natural que ninguém vá ligar muito ao que ele disse. Primeiro, porque foi Marques Mendes que o disse, e está na moda desvalorizar o que ele diz em detrimento de uma certa gritaria vazia de conteúdo que passa por ser “fazer oposição”, que só chega aos jornais porque é oposição à oposição e não oposição ao governo. Segundo, porque esta é uma das questões que não interessam discutir, no meio de tanto futebol, com o silêncio indiferente a apagar as frases de risco para o Governo. Marques Mendes tem que a repetir várias vezes e acrescentar-lhe mais elementos. Sosseguem os que vão dizer que é “preciso provar” porque provas estão por todo o lado, é preciso é iluminá-las pelo debate e repetir, repetir, repetir.
Marques Mendes, para ser ouvido, nesta fase(como noutras), tem ainda outro problema, o seu verdadeiro problema: mostrar que o PSD aprendeu com erros do passado e não repetirá o mesmo esquema e a mesma lógica de poder que o engenheiro Sócrates está a usar agora. Entre os artífices das armas que Sócrates manipula contou-se o PSD. Mais: contou-se e conta-se, porque o PSD é comparte do “projecto de poder” de Sócrates em pelo menos duas das áreas mencionadas, a justiça e a comunicação social.
Não escapou a ninguém a falta de rigor com que o PSD reagiu às recentes atitudes da ERC, e ao facto, mais uma vez demonstrado, de que, apesar de o PSD ser parte da sua composição, ou exactamente por isso, tal não significa nenhuma salvaguarda de qualidade, independência e pluralismo na sua composição; o que remete para as escolhas de pessoas, a área onde a responsabilidade das direcções partidárias é sempre maior, direi mais, total.
Depois há a questão do “projecto pessoal” de Sócrates que se percebe melhor no PS, por razões óbvias – é aí que o “pessoal”, que é também de grupo ou entourage, choca com interesses rivais. Aí basta acompanhar as manobras dos que se lhe opõem para se perceber como são eles os primeiros a achar o mesmo que Marques Mendes. Até agora, nas manobras a curto prazo, Sócrates deixou cemitérios por todo o lado. Alegre e Soares foram derrotados na contestação a este “projecto pessoal”, e acabaram para já submissos, mas há grandes manobras a médio prazo mais subtis e pacientes, mas tentando defrontar o mesmo adversário.
Voltando à frase inicial, ela implica duas coisas que são caminhos importantes para o debate crítico ir mais longe. Uma é insistir que “não está em curso nenhum projecto de mudança verdadeira do País", e não está. Na melhor das hipóteses, o governo PS está a tentar salvar o nosso débil modelo social, uma versão de terceira classe do modelo social europeu, garantindo-lhe mais uma década sem bancarrota à custa do empobrecimento de todos. Desse ponto de vista, estamos a garantir mais do mesmo, sendo que o mesmo é cada vez menos. Claro que para fazer isto com eficácia, o PSD tem que se demarcar das opções político-ideológicas do “modelo”, o que nem sempre faz. Tem que ser mais liberal, if you know what that I mean.
Outra é a identificação das áreas onde se materializa preferencialmente este “projecto”, e aí justiça – poder económico – comunicação social é a tríade certeira. É aqui que o governo está a centralizar tudo e a concentrar um poder para que não aceita verdadeiro escrutínio da Assembleia, nem verdadeiro debate público. É aí que um esforço de estudo (por parte da oposição) e acompanhamento crítico (no espaço público) se exige como pão para a boca.
2 Comments:
Pacheco Pereira só tem um defeito -trabalhar à direita. :-))
E uma grande virtude - a inteligência de descolar do seu próprio espaço político quando o sente medíocre.
Falta gente desta no P"S", definitivamente...
(vitor m)
concordo "quase" contigo...
para mim, direita e esquerda são conceitos simplistas...redutores.
Há é homens de carácter ou sem...
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