A greve e a guerra dos números
Como é habitual em circunstâncias idênticas, os números relativos à adesão a uma greve variam, consoante as fontes. O governo tende a desvalorizá-los, os sindicatos a apresentar outros. Também não vou entrar nessa guerra, embora não deixe de fazer algumas considerações.
Nas televisões, apareceu um secretário de estado, à frente de um computador, fazendo crer que os números que ia debitando, eram os verdadeiros. E passando a mensagem que apenas 20,03% (Que precisão !) teriam aderido à paralisação. Veio a saber-se que esses números partiam de um universo de 200 mil funcionários públicos quando estes atingem valores superiores a 700 mil. Falseou, portanto, os resultados.
No que respeita ao ensino, a área que mais me interessa, os números são elucidativos.
- Das 9310 escolas públicas, 1737 (18,6 por cento) estiveram encerradas ontem. O número foi divulgado pelo Ministério das Finanças. Comparando com a greve de 9 e 10 de Novembro do ano passado, houve mais 919 estabelecimentos estatais de ensino que não abriram as portas na paralisação de ontem. A lista das escolas encerradas pode ser consultado no sítio da fenprof. Curioso o facto de o distrito de Viseu ser dos mais afectados.
- Para além destas escolas, centenas ou milhares de outras sentiram os efeitos da greve, com os professores e outros funcionários a não comparecerem no local de trabalho. Foi o caso da escola onde lecciono.
Por mais que o governo desvalorize o impacto da greve, estes números mostram bem o descontentamento em relação às políticas seguidas, nomeadamente por essa aventesma que dá pelo nome de Maria de Lurdes.
5 Comments:
Sendo o distrito de Viseu maioritariamente psd e tendo a greve sido decretada por sindicatos de todas as tendências, não admira que a adesão aqui tenha sido significativa.
Estas razões não pretendem diminuir o trabalho aturado dos sindicalistas fenprof, mas são variáveis que não podemos esquecer.
Afinal, VA, esquerda e direita parecem estar estrategicamente unidas contra as aventesmas que se instalaram no poder!
VA, eu gostaria muito de concordar contigo e achar que houve uma reprovação das políticas do ME. Se calhar não será tanto assim . A maior parte das escolas encerrou porque os auxiliares da acção educativa fizeram greve. Não foram os professores. Esses continuam a apoiar a ministra.
Ouvindo o que os professores dizem e vendo a sua actuação em dias greve, cada vez mais considero que se está perante uma falta de profissionalismo. Um profissional trabalha, cumpre, mas também exige os seus direitos, as suas condições de trabalho e a obrigação de ser tratado com dignidade.
A maior parte dos professores não são profissionais. São sacerdotes e sacerdotisas imbuídos de uma qualquer missão " divino-ministerial" que acha que deve trabalhar sempre para cumprir a sua missão enquanto Ser e ganhar as recompensas " divino-ministeriais".
Ser profsseor é ser profissional. Não é sacerdócio.
amenophis:não sou tão pessimista como tu. Acho que a maioria dos professores está contra a ministra da educação. Embora eu lamente que nem todos sejam consequentes,isto é, lavrem o seu protesto quando a oportunidade surge. Essa ideia de "sacerdócio" é residual.
Tenho que concordar com o VA.
Sacerdócio é de facto para apenas alguns, muitos dos quais até nem simpatizam com este ME.
Isto a acreditar no que eles (me) dizem, a mim que sou insuspeita e publicamente anti-este governo.
O que de facto se passa, é o regresso do medo, algo salazarento, que deve ter ficado colado às paredes destas velhas escolas e sobretudo andar ainda a vaguear no DNA de muitos de nós. Isto aliado a um enorme materialismo/sovinice que nos leva a pensar que um dia de greve vai fazer uma falta do caraças no orçamento familiar.
É claro que com os ordenados que temos, faz falta, mas pior seria se tivéssemos que gastá-lo numa doença ou noutro qualquer azar...
Quanto ao facto de serem os funcionários (mais combativos) quem fecha as escolas, isso é verdade no caso das EB 2,3 e das Secundárias, mas é falso no caso das do 1º ciclo.
Aí é a ausência do professor que provoca o fecho da escola.
Alguns funcionários revoltam-se com o facto de os professores utilizarem a greve deles para não fazerem a sua greve.
Eu não acho que seja uma atitude oportunista, pois esses mesmos profes nunca fariam greve, se as condições na escola lhes permitissem trabalhar.
Outra questão bem mais séria é a substituição dos colegas grevistas. Eu preferiria sempre uma falta injustificada a fazer a substituição de um colega em greve. Noto que os colegas não grevistas não têm qualquer problema de consciência ao fazê-lo. Paciência, a postura fica com eles.
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