A Sara e o programa Erasmus (I)

A Sara Lemos foi minha aluna, no 12º ano, há uns 4 anos. Brilhante como poucas, matriculou-se em Bioquímica, na Universidade de Coimbra, frequentando o último ano da licenciatura. Neste momento, ao abrigo do programa Erasmus, encontra-se na Suécia. Por ocasião da passagem de ano, enviou-me um mail onde dá conta da sua vida académica e da visão que tem das gentes desse país nórdico. Estes exemplos de amizade e de consideração que ex-alunos dão a muitos professores funcionam como motivação e alento para continuarmos a encarar o ensino como trabalho dignificante, apesar da aventesma que, tragicamente, ocupa o ministério da educação.

Hoje deixo o testemunho da Sara, enquanto aluna nessa instituição de ensino superior sueca.

• "Na Suécia, estudo em Estocolmo, no Instituto Karolinska (onde fazem a entrega dos prémios Nobel). A este instituto está associado o Hospital Karolinska. O instituto é tipo uma universidade, mas onde só se estuda medicina, biomedicina (bioquímica), saúde pública, enfermagem, fisioterapia..., ou seja, só há cursos na área da saúde. Para além de serem leccionadas aulas, também há unidades de investigação a funcionar no "campus universitário". Estou a trabalhar (fazer o estágio) num projecto que investiga o papel de algumas células do sistema imunitário, como a diabetes tipo1. É um projecto muito interessante e promissor quanto a novos métodos de terapia e prevenção. No entanto, os nossos estudos estão limitados a ratinhos que desenvolvem espontaneamente diabetes! Nada em humanos ainda!
  Trabalho é o que não falta por aquelas bandas, o que falta é tempo… Praticamente faço 3 ou 4 experiências por semana. Por experiência, normalmente mato 6 ratinhos para obter células do pâncreas e de outros órgãos. No início não me fazia muita confusão matar os ratinhos, mas agora, como o meu currículo de “serial killer” já vai longo, às vezes já me custa um pouquinho, mas tem que ser! No entanto, seguimos sempre as normas éticas!
  Estou a gostar de todo o desafio que a pura investigação esconde! É claro que adoro estar no laboratório rodeada de máquinas, células, soluções e stress, mas tudo o que está por detrás de cada experiência é ainda mais espectacular. Toda a arquitectura cognitiva que se monta antes de ir para o laboratório, para pôr mãos à obra, é absolutamente fantástica! Isto de tentar montar um gigantesco quebra-cabeças é fabuloso!
  Se todo o raciocínio e o desafio que antecedem uma experiência já são encantadores, todas as questões que se levantam depois da experiência feita constituem um desafio muito mais fascinante. É claro que muitas experiências não levam a lado nenhum, mas também essas não deixam de ser menos importantes que aquelas que nos dão uma “bomba” para as mãos!
  Como se diz numa tese que ando a ler: “ A person who is looking for something doesn´t travel very fast!”. Isto do saber os porquês requer muita, muita paciência!"