13.8.08

Poema da Semana


Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.


Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nossa!O Sr. Prof. é uma caixinha de surpresas.
Pensei, ser só a ALMA, a acalentar, a minha (alma), com poesia, e o Sr. É a 2ª vez que me surpreende.
Parabéns?! Obrigado?!
No entanto, sinto um pouco de nostalgia, nesse seu poema.
Será, que é o poema?
Continuação de boas férias.

13/8/08  
Blogger Vítor Amado said...

Anonima: obrigado pelo comentário.
Foi apenas a 2ª vez que a surpreendi?
Beijoka

14/8/08  

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