A Festa
Este fim de semana parece que todos os caminhos vão dar à Quinta da Atalaia, local onde há anos se realiza a festa do PCP. Para ser politicamente correcto, diria que é um acontecimento incontornável. Que seja. Pelo menos na vertente cultural, merece consideração, palavras de apreço. Já o mesmo não direi no plano político. Os camaradas estarão, com ouvidos atentos e olhares embevecidos, pregados aos discursos do secretário-geral. Ouvirão as críticas costumeiras, num discurso gasto e cada vez mais ortodoxo, entrecortado com vivas ao PCP, de punho erguido, como convém. Nostalgicamente, recordarão os tempos do "sol" que a todos iluminava, falarão em "operários", "exploração", "capitalismo", "nosso povo", "imperialismo"...
Domingo à noite, reconfortados, chegarão a casa com esperança renovada nos "amanhãs que cantam". O rito anual estará cumprido.
Ah, e não esquecerão o apoio incondicional às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia(FARC), grupelho terrorista que, qual centelha, acenderá de esperança os camaradas portugueses. Num texto tão laudatório quanto patético, o camarada Miguel Urbano Rodrigues escreve a propósito das camaradas guerrilheiras:
"No meu acampamento somente uma não tinha companheiro. Apenas Eliana ultrapassara os 40. A maioria não atingira os 25 anos. A ética da guerrilha impunha normas que eram respeitadas. Se dois namorados pretendiam estabelecer uma relação amorosa informavam o comandante. A infidelidade não era tolerada pelo código da guerrilha. A pareja era autorizada a dormir na mesma caleta, o estrado-cama que, sob um toldo de plástico, na grande floresta, fazia as vezes de casa. O regulamento proibia também que os guerrilheiros, homens ou mulheres, mantivessem relações sexuais com hóspedes das FARC. (...)
Para surpresa minha quase todas eram bonitas. (...)
Yurleni, a ranchera, projectava a imagem de uma jovem camponesa desinibida, faladora , com uma espontaneidade tocante. Passava o dia na cozinha preparando as refeições dos convidados. Quando apreciávamos um prato de caça ou uma especialidade colombiana reagia tão efusivamente que até comunicava o facto ao seu papagaio palrador, empoleirado num arbusto, ao lado do bidão da água, no terreiro por onde deambulavam galinhas e o quati, mascote da guerrilha. Yurleni tinha um companheiro, John, e dizia ser mais feliz do que algum dia pudera imaginar. Menina, tinha uma obsessão: ser soldado. Mas acabou nas FARC quando percebeu que era mentira o que delas contavam e que a guerrilha era, essa sim, um exército de heróis, como outro não existia . (...)
Isabel mantinha longas conversas comigo. Os temas ideológicos fascinavam-na e encontrou em mim um interlocutor. Após um ano, sentia-se ainda uma iniciada. Cumpria exemplarmente todas as tarefas, verifiquei que atirava muito bem, mas a insegurança atormentava-a. A beleza de Isabel chamava a atenção pela suavidade. Tinha uma pele muito branca, uns olhos enormes, luminosos e um corpo onde tudo parecia certo pela forma e a proporção. Do conjunto desprendia-se irrealidade. " (O texto pode ser lido, na totalidade, aqui.)
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Etiquetas: política
3 Comments:
Pois é, Vitor! Não sou comunista nem nunca fui, nunca votei nesse partido, mas dentro de dois anos, pela primeira vez, irei votar PCP.
Não que queira ser governado por eles, mas porque à direita é tudo igual ao PS e os iluminados do BE não convencem ninguém.
É um voto de protesto contra este PS que me enganou e o voto de quem já não tem mais nada a perder. Nada pode ser pior.
Não querendo ser governado pro comunistas, gostaria muito que todos os votos perdidos por estes gajos que nos governam, caissem à esquerda. Era merecido.
Ó VA, és um invejoso...!
Querias era estar no acampamento!
Isto é melhor que a utopia do More.
Ó VA,
tu pertences ao grupo (gigantesco) dos que falam do que não sabem. Mas... é um direito (o direito ao disparate)...
Que Marx, Lenine, Staline e Mao te protejam!
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