Nós e os outros I
toque de saída.
um dos alunos deixa-se ficar para trás. objectivo: atar os atacadores dos ténis. para o conseguir coloca, um após outro, os dois pés, literalmente de chapa em cima da cadeira onde tinha estado sentado. observei-o na expectativa de ver o que faria - quando nos antecipamos, têm sempre uma resposta pronta! rssss - esperei, pois.
após o "arranjo" vejo-o colocar a mochila às costas e dirigir-se para a porta...
- desculpa-me, mas não me parece correcto o que acabaste de fazer.
(percebeu logo!)
- a funcionária limpa pois é para isso que lhe pagam.
- resposta errada. lá em casa fazes o mesmo uma vez que tens uma mãe para limpar...
- não queira comparar... além de ter de ouvir a minha mãe, tenho de respeitar o trabalho dela que trabalha fora.
senti que os meus cabelos se levantavam de fúria mas contive-me.
- pois esta funcionária trabalha fora e será mãe também de alguém. quanto ao ralhar, calhei-te eu na rifa... mas diz-me, quanto achas que vale o respeito que eu tenho por ti?
- eu acho que o respeito por alguém não tem preço.
- mas não foi isso que tu disseste há pouco. em que é que ficamos?
de olhos esbugalhados, percebeu a "calinada".
voltei à carga.
- o meu respeito por ti é de graça, imagina e vais ser tu quem vai valorizá-lo... imagina como.
sorriu-se. tirou um lenço de papel, limpou a cadeira e, sem uma palavra, deitou-o no lixo.
sorri-lhe. baixou os olhos e lançou-me um "obrigado, setora! um bfs para si..."
lamechas como sou, eterneceu-me aquele obrigado. mais do que tudo.
Etiquetas: acreditar apesar de tudo, nós, os outros, sociedade
10 Comments:
É uma boa maneira de educar...
As professoras têm sempre um lado tao bonito.
Gostava que me tivessem feito isso na minha fase de parvoice (aquela por que todos os adolescentes passam). Tinha acelarado um pouco.
Ainda bem que ha pessoas assim. Beijinhos
Bela história! Sem dúvida, as palavras são a melhor forma de educar.
Gostei da pedagogia da Prof e do reconhecimento da incoerência do aluno, principalmente da parte final.
bbs
sim, sem manual. temos de estar atento a cada um e adequar a estratégia desejando que ela seja mm a adequada. mas se há "coisa" que eu sei acerca da adolescencência é que ela é justa... mesmo quando se "armam" em provocadores, rebeldes e mm quando o são, todos têm sentimentos e visão.
obrigada.
alma
paulinha
pois é, è o lado materno. rss
só pelo acelerar porque de resto sou defensora de que cada fase no seu lugar. é uma forma de equilíbrio, a justa.
e muito obrigada, és muito gentil.
beijinhos
alma
árabe
passou-se comigo como tantas outras.
é uma das maiores vantagens neste processo, o contacto com jovens, aprender e dar de nós... pronto, são muitas vantagens, na verdade... ;)
e com os anos ficamos mais pacientes, mais ousados, o que é bom.
obrigada
alma
jacinto
há um leque de "ensinamentos" que temos de saber aplicar e de acordo com as situações.
a minha prof de Pedagogia Educacional disse-nos uma vez que a adolescencência era como a fase da 1º dentição, dói terrivelmente na altura mas, mais tarde, ninguém se lembra já. cada vez mais encontro sentido nesta frase até pelos alunos que vou encontrando e com quem ainda convivo passado o 12º ano.
compete-nos a nós estar alerta.
obrigada
alma
ALMA, QUE MELHOR EXEMPLO PARA A AVALIAÇÃO DO PROFESSOR? BEM AJAM, TODAS AS ALMAS DESTE PAÍS . PENA QUE POUCOS SE APERCEBAM DELAS.
anónimo
só hoje vi o seu comentário.
muito obrigada pelo mesmo e asseguro-lhe que há imensas almas assim, felizmente para o futuro do nosso País espelhado no rosto dos nossos jovens.
e o que nos faz cá por dentro, nem queira saber.
alma
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