Tenha muito cuidado, setora, qu'eu cá sou muita mau!
foi no ano em que fiquei numa escola do concelho de Loures onde habitava na altura.
disciplina francês, alunos de 8º, 9º e 11º. nesse ano deram-se os acontecimentos na guiné-bissau e recebemos alunos refugiados com marcas de um conflito sério que lhes roubou pais, irmãos, família, um lar, enfim... a escola ficou superlotada nas suas instalações pré-fabricadas em tudo mas com profs bem cimentados em boa vontade, fruto da sua experiência com alunos mais ou menos problemáticos, daqueles que mais ninguém quer. pois, também é (era?) assim...
tinha uma turma de 8º, daquelas “especiais”. os alunos, na sua maioria repetentes, ostentavam na gola da roupa de marca - alguns, os piorzitos - a marca da insubordinação orgulhosa de serem temidos pelos profs, expulsos anteriormente de uma escola do básico, de pertencerem sempre à pior turma das escolas por onde teriam passado.
… porque é excelente ser-se mau, temido, angariar amigos pelo medo que se sente à sua volta. e foi esse o discurso que me ofereceram.
um deles era um “anjinho” bonito, loiro, de olho azul, o pior, a quem a mãe castigava vezes sem conta usando toda a sua imaginação, até descobrir que o controlava mais ou menos se o impedisse de ostentar a sua imagem de marca, o seu cabelo rapado à skinhead... cómico, não é?
sempre na moda, mimado, ao que constava, pelo pai, face a uma mãe impotente contra dois. depressa desisti de jogar o jogo que me apresentava em cada aula: mandá-lo para a rua. “aturá-lo” a tempo inteiro era também prejudicial aos outros, poucos, mas que queriam aprender qualquer coisa. comecei então a responsabilizá-lo, a dar-lhe importância pela positiva, corrigindo exercícios, ajudando os mais fracos e até porque tinha bons conhecimentos da língua, ao ponto de ser um dos melhores alunos da turma…
um dia, quando as coisas já estavam mais calmas, elogiei-os pela alteração de comportamento e pelos resultados obtidos no teste. o “meu anjinho” perguntou então se já tinha “apanhado” uma turma assim, tão difícil… um sorriso orgulhoso na pergunta. retribui-lho. “a escola onde estive no ano passado fazia parecer a vossa turma uma sala de bebés num infantário” – respondi-lhe(s). foi a surpresa. quiseram saber…
de alguns casos que lhes contei, de exemplos comportamentais e das naturais consequências, ficou a ideia de que havia maus piores do que eles e que a sua vida se encaixava num padrão de normalidade que, afinal, contribuía para a sua felicidade, à sua medida... não direi que terá ficado um sentimento residual de medo mas antes de respeito por pensarem que poderiam ser, um dia, as vítimas de outros mais fortes do que eles…
disciplina francês, alunos de 8º, 9º e 11º. nesse ano deram-se os acontecimentos na guiné-bissau e recebemos alunos refugiados com marcas de um conflito sério que lhes roubou pais, irmãos, família, um lar, enfim... a escola ficou superlotada nas suas instalações pré-fabricadas em tudo mas com profs bem cimentados em boa vontade, fruto da sua experiência com alunos mais ou menos problemáticos, daqueles que mais ninguém quer. pois, também é (era?) assim...
tinha uma turma de 8º, daquelas “especiais”. os alunos, na sua maioria repetentes, ostentavam na gola da roupa de marca - alguns, os piorzitos - a marca da insubordinação orgulhosa de serem temidos pelos profs, expulsos anteriormente de uma escola do básico, de pertencerem sempre à pior turma das escolas por onde teriam passado.
… porque é excelente ser-se mau, temido, angariar amigos pelo medo que se sente à sua volta. e foi esse o discurso que me ofereceram.
um deles era um “anjinho” bonito, loiro, de olho azul, o pior, a quem a mãe castigava vezes sem conta usando toda a sua imaginação, até descobrir que o controlava mais ou menos se o impedisse de ostentar a sua imagem de marca, o seu cabelo rapado à skinhead... cómico, não é?
sempre na moda, mimado, ao que constava, pelo pai, face a uma mãe impotente contra dois. depressa desisti de jogar o jogo que me apresentava em cada aula: mandá-lo para a rua. “aturá-lo” a tempo inteiro era também prejudicial aos outros, poucos, mas que queriam aprender qualquer coisa. comecei então a responsabilizá-lo, a dar-lhe importância pela positiva, corrigindo exercícios, ajudando os mais fracos e até porque tinha bons conhecimentos da língua, ao ponto de ser um dos melhores alunos da turma…
um dia, quando as coisas já estavam mais calmas, elogiei-os pela alteração de comportamento e pelos resultados obtidos no teste. o “meu anjinho” perguntou então se já tinha “apanhado” uma turma assim, tão difícil… um sorriso orgulhoso na pergunta. retribui-lho. “a escola onde estive no ano passado fazia parecer a vossa turma uma sala de bebés num infantário” – respondi-lhe(s). foi a surpresa. quiseram saber…
de alguns casos que lhes contei, de exemplos comportamentais e das naturais consequências, ficou a ideia de que havia maus piores do que eles e que a sua vida se encaixava num padrão de normalidade que, afinal, contribuía para a sua felicidade, à sua medida... não direi que terá ficado um sentimento residual de medo mas antes de respeito por pensarem que poderiam ser, um dia, as vítimas de outros mais fortes do que eles…
publicado in http://sol.sapo.pt/blogs/AlmaMater/default.aspx
Etiquetas: carinho, educação, ensino, sociedade, talvez e só...
3 Comments:
Muy buenas tus entradas, amigo.
He enlazado este blog también, tenía pero el del otro.
Off topic:
Me mencionaste sobre Magdi Allam, en mi blog yo tengo varios posts sobre su caso.
Un gran abrazo, Martha Colmenares
HO ALMA SE DÚVIDAS EU TIVESSE :
DESDE O MENINO COM O PÉ EM CIMA DA CADEIRA(PARA A FUNCIONÁRIA LIMPAR)
ATÉ ESTA HISTÓRIA : NÃO HÁ DÚVIDAS , QUE EU GOSTARIA QUE TODOS OS PROFESSORES SE CHAMAM-SEM "ALMA". (UM BEM AJA )POR SABER SER PROFESSORA, E POR ME TRAZER RECORDAÇÕES TÃO BENÉFICAS COMO:(A MAFALDINHA)
NÃO SOU SÓ NEGATIVISTA OU DO CONTRA ,SEI VALORIZAR QUEM MERECE.ADORO OS SEUS (ÁS VEZES DELES)POEMAS . FIQUE BEM
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