Poema da semana
há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu...como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos...sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta...dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci...acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade
Al Berto
O Medo, 1982
pensava eu...como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos...sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta...dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci...acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade
Al Berto
O Medo, 1982
Etiquetas: Poesia
5 Comments:
Nossa, que lindo e forte o poema....
Por vezes o medo ataca a minha alma de várias formas.
Talvez seja o verdadeiro crepúsculo na vida.
O que todos esperamos é o que o poeta fala: felicidade.
bjs!
Embora seja brasileira, sou grande apreciadora d apoesia portuguesa, para mim a melhor do mundo. E conheço o Al Berto. Tenho um livro dele, imenso, roxo, lindo. Acho que vou lê-lo enquanto me recupero. Amigo, venho de uma operação para extração de câncer no útero. Preciso da ajuda de todos para reerguer-me. Para tanto, fiz um post sobre Cidadão Kane, dedicado ao nosso querido vampiro, o Ravnos, e há mais coisas lá de que vc vai gostar, como retratos feitos a mão. Apareça:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata Maria Parreira Cordeiro
E que se passa com o sátiro? Foi em peregrinação a Fátima?
Mari: obrigado pela visita e não deixes que o medo te vença...
renata: espero que a tua recuperação seja total; estaremos contigo a fazer força para que isso aconteça. Já que gostas de poesia portuguesa, aconselho-te que leias também Alexadre O'Neill. Sophia de Mello Breyner ou Eugénio de Andrade.
Mac adame: o sátiro não foi a Fátima, mas vai lá várias vezes. Um dia destes, retornará ao nosso contacto.
Ó Vítor Amado, sem menosprezo para os outros, mas isto sem o sátiro não tem tanta piada. É como se a Alemanha nunca tivesse tido um Hitler ou como se a ICAR nunca tivesse tido a Santa Inquisição...
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