22.1.07

Outra vez o Miguelito!

Este senhor arvora-se, cada vez mais, em arauto da verdade. Sabe de tudo, fala sobre qualquer assunto, insulta toda a gente, diz umas graçolas, não faltará muito que se considere o "justiceiro" da Pátria; então, pedirá poderes especiais para correr com toda esta corja de imbecis que povoam Portugal. Do alto da sua petulância, não passa de um pexote traquina a quem dão um coluna de jornal ou antena televisiva para verter o seu fel contra todos aqueles que, honrada e abnegadamente, se esforçam por viver num país melhor, nomeadamente os professores. Antevejo-o já de comenda ao peito outorgada por essa abencerragem que dá pelo nome de Drª Maria de Lurdes Rodrigues, Milu para os mais íntimos.

O texto que se segue foi recebido por mail (obrigado, vítor m).

No número 1784 do Jornal Expresso, publicado no passado dia 6 de Janeiro, o colunista Miguel Sousa Tavares desferiu um violentíssimo ataque contra os professores (que não queriam fazer horas de substituição), assim como contra os médicos (que passavam atestados falsos) e contra os juízes (que, na relação laboral, pendiam para os mais fracos e até tinham condenado o Ministério da Educação a pagar horas extraordinárias pelas aulas de substituição). Em qualquer país civilizado, quem é atacado tem o direito de se defender. De modo que a professora Dalila Cabrita Mateus, sentindo-se atingida, enviou ao Director do Expresso, uma carta aberta ao jornalista Miguel Sousa Tavares. Contudo, como é timbre dum jornal de referência que aprecia o contraditório, de modo a poder esclarecer devidamente os seus leitores, o Expresso não publicou a carta enviada. Aqui vai, pois, a tal Carta Aberta, que circula pela Net. Para que seja divulgada mais amplamente, pois, felizmente, ainda existe em Portugal liberdade de expressão.

Carta duma professora


«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.
O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência. O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido. O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação».

Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea

8 Comments:

Blogger pn said...

o sr MST é um atrevido pedante

definitivamente e para meu sossego espiritual vou interromper um ritual de décadas e vou deixar de comprar o Expresso que alcoita badamerdas deste quilate e presunção

ler a mãe (Grande Senhora) e o esterco qu'este gajo destila...

22/1/07  
Anonymous Anónimo said...

E eu há uns anos atrás até gostava do tipo! Ou melhor do que ele escrevia! Mas assim é que vende!

“O "sucesso" do sistema educativo indiano é fruto do acesso livre e obrigatório à educação, primária e secundária*, (…) da alteração paradigmática sobre o valor de educação** e da simples vontade e empenho do estudante*** médio indiano” – um bocadito do texto “A Educação na Índia e em Portugal” no Público de 4ª feira passada ( ou por aí!) – os * são meus!!!

*Por aqui fecham-se Escolas…
** Por cá temos os nossos MSTs, além da ministra e amigalhaços…mas ainda é preciso um bocadito mais de esforço! Ainda há cidadãos que têm consideração e respeito pelos Professores e até entendem que o Ensino e a Educação são os pilares do desenvolvimento!!! É urgente acabar com estas mentes sub-desenvolvidas!!!
*** Como? Se os professores são reles…

Abraço
Graça

22/1/07  
Blogger Padre Lúcio said...

Caríssimos
O senhor Miguel Sousa Tavares, afora a caridade cristã de que estou imbuído, não me merece grande consideração.
Sobre o seu texto, que também li, desacordo em quase tudo com ele, mas..., a introdução que é feita a eta carta de resposta, está neste momento desactualizada, visto esta ter sido publicada na última edição do Expresso, dia 20 de Janeiro.
Que a paz vos acompanhe.

22/1/07  
Blogger Vítor Amado said...

Obrigado, pade lúcio.
Como não leio o expresso há alguns tempos, não me apercebi da incorrecção da nota introdutória. Como recebi todo o texto por mail...
De qq modo modo, obrigado pela chamada de atenção.
que deus esteja convosco...
abraço

23/1/07  
Anonymous Anónimo said...

ó senhor padre lúci(d)o,

olhe que o vítor amado é bom piqueno. Atesto-o eu. Merece bem o Paraíso, mesmo sem caridade cristão.

23/1/07  
Anonymous Anónimo said...

...caridade cristã, e não cristão, evidentemente (t'arrenego satanás quero dizer t'arrenego gralha).

23/1/07  
Blogger Vítor Amado said...

olá, toino.
pelo atestado.
abraço

23/1/07  
Anonymous Anónimo said...

Eu também certifico que o VA é bom moço, e merece o paraíso(embora sem 72 virgens- querias-).
Mas queria dar os parabéns á autora do texto porque na realidade o MST é insuportável!
Muita caridade cristã precisa de ter o Padre Lúci(D)o.

31/1/07  

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