21.1.07

Re(Leituras)

  • " Compreendia até que ponto o excesso de zelo pode levar uma mente subalterna a identificar-se cegamente com os desígnios da hierarquia aniquiladora.(...) Sujeito às arbitrariedades do poder, imundo, hirsuto, humilhado de tantas e tantas maneiras, conservava, contudo, a possibilidade de consciencializar a desgraça, o dom de lhe circunscrever o alcance, na medida em que estava nas minhas mãos escolher entre a renúncia e a perseverança, de continuar a resistir ou de aceitar o opróbrio. E eles, os serventuários da tirania, os parafusos da engrenagem trituradora? desde criança que, a meus olhos, a dignidade da existência implicava o respeito pelo seu pleno acontecimento. A verticalidade de meu pai dera-me a medida do homem: um ser em que toda a grandeza concebível tinha a obrigação de se refectir. (...) E ficara-me, desse protesto, o gosto da liberdade e a ânsia de a ver também saboreada ou apetecida pelos outros."

Miguel Torga, in A Criação do Mundo, 5º dia, pp. 428-429.

D. Quixote, Lisboa, 2ª edição, 1999

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ai como a Milu gosta desta gente e quão actual é ainda o texto...

22/1/07  

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